Danae

Danae
Klimt, Gustav

quinta-feira, março 29, 2007

Gota a gota


[Ana Cristina César]


Cada busca inútil me traz uma impressão longínqua de despedaçar-se: chegou-se a algum lugar, afinal, pois chegamos quando nos dispomos a continuar; mas a que custo! Seria talvez mais desejável para nos, gente, não chegar, achando quem sabe um último suspiro depois de um último passo.Cada noite que desce sobre uma espera vã traz-me à boca um gosto de vinagre, aos ouvidos um som qualquer que ensurdeça. Ninguém se disse adeus, e na ausência de luz alguém está morrendo sozinho.Cada vez que não morremos parece-me que demos mais um passo pra trás, progredimos no sentido inverso, chegamos, pois que nos levantamos para prosseguir. E nestes dias de indolência, oco, ânsia oculta, uma sensação de interminabilidade sobe, sobe, pelas veias sobe. Nada. Esta falta de segredo é uma chegada, no seu verdadeiro significado: chegada é sempre escala; ponto para respirar; pela penúltima vez, quem sabe.
Esta brisa marinha semimágica que entra tão sub-repticiamente pela janela denuncia o quê? Ou liquefaz meus suspiros em mistério tátil e tácito. Meu Deus, de novo a brisa a me desalienar e desalinhar, despertando o borbulhar que o ano inteirinho pressentiu. Suspirosa e oleosa, uma tonta. Ligo o rádio. Será que eu fui engolida inteira? Faz de conta que a minha digestão é fácil, que as grandes partes se derreteram já, que os ossos cuspidos estão arrumados, insensíveis e ressecando [...] A noite despencou e quebrou três estrelas.

segunda-feira, março 26, 2007

Paquetá

Não me olhes nos olhos, sinta-me com eles fechados. O que tenho pra te dar só pode ser visto na escuridão do silêncio...

Entre tantas tentativas e frustrações restam sempre coisas de bom...
Espero não as perdes ao longo da fumaça que destorce todas as nossas emoções.
Mais uma vez... E eu que nem sei se posso mais... E eu que nem sei se ainda sinto... Algo além das pancadas.

Os dias que passamos, as noites que choramos, as horas, os planos, as vezes que não pude, as horas que perdi, os beijos que ganhei, as cartas que escrevi...

“de novo a brisa a me desalienar e desalinhar, despertando”

“Ah, se eu agüento...”


26.03.2007 00:49

terça-feira, março 13, 2007




A quem você deseja enganar com esse sorriso?
Chore!
Não disfarces o que sentes!
Não fuja antes do tempo!
Não chore antes da dor!
Não sinta dor antes do golpe!
Sorria!
Diga o que sente!
Se deixe machucar (evitar dói mais)!
Esqueça o que passou!
Olhe pra frente... E pros lados!!!

Leve a sério seus próprios conselhos!

quinta-feira, março 08, 2007


"Eu me defendo mais que o necessário.
Afasto de mim quem eu quero longe, mas também quem eu quero perto.
Maldito mecanismo de defesa."

quinta-feira, março 01, 2007


"...é que há em mim agora uma dor profunda específica, com tantas facetas quanto os olhos de uma mosca, e devo dar à luz essa monstruosidade de modo a ficar novamente leve."

Os Diários de Sylvia Plath