Danae

Danae
Klimt, Gustav

terça-feira, dezembro 25, 2007


Eu não sei ser só.
Meu coração não sabe estar vazio.
Também não consigo ser de companhia.
Quando junto, desejo estar sozinha.
Não sei ter paz, mas não declaro guerra.
Não sei amar, mas não carrego ódio.
Falta-me operância para a vida.
Falta-me uma alegria que sequer perdi.
Falta-me a paz para amar sem dor.
Falta-me o sol para amar sem amargura.
Falta-me a chuva para amar sem pena.
Falta-me outra vida e mais tempo.
Falta-me não ser mais quem sou agora.
Falta-me um quê que a vida não me deu.

Carolina Miquelassi
[25.12 / 19:54]
.
“...não estou postando esse texto aqui, estou enterrando. Preciso que todo este sentimento desapareça”

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Nunca há uma história de amor para ti.
Seus finais são sempre Casablanca
Nos quais você é Hunfrey Bogart sem cigarros pra consolar.
Não há lenço nas despedidas, apenas um mar de gotas salgadas.
O que amas não é teu, o que queres partiu... Em dois pedaços inteiros.
Nada é para ti.
Não peças amor se é delito querer demais.
Amor não há, amor não há.
É fruta do pé vizinho
Não podes provar.
Destino de Camélia, de dama da paixão
Não desejes nada nobre
Tua nobreza é o linho
Não és Simone de Beauvoir.
Mereces observar os destinos dos amantes
E ornar a vaidade dos homens com fantasias
Mas amor não é para ti, cretina!
Amor não há, amor não há.
Ocupas os sonhos mais lascivos dos homens, mas não seus corações.
És digna dos desejos dos homens, mas não de seus amores.
És merecedora das palavras dos homens, mas não de desfrutar de seu convívio mais profundo.
A você são voltados os beijos e os toques dos homens, mas não seus planos e seus futuros.
És colchão e prato pras fomes dos homens, mas nenhum deles (se)quer (pode) saciar tua verdadeira sede.
[Carolina Miquelassi]
[21.12 / 06.23]
... "Comecei esse texto há mais de 3 meses e terminei hoje, em meio a uma crise de TPM violentíssima. Não quero me sentir assim novamente, portanto vamos encarar isso tudo como uma obra ficcional em que qualquer semelhança com fatos reais seja mera coincidência." ;)

quarta-feira, dezembro 19, 2007

A ferida e o dedo


A ferida por vezes lateja,
Por vezes coça,
Por vezes inflama.

A ferida está em relevo
E se não a vejo
O dedo sente.

A ferida em dias de chuva
Alerta a chegada dos pingos
Avermelhadamente.

A ferida repuxa, descasca
E cicatrizada
Ainda é ferida viva.

Todo dedo quer uma ferida.
E ela do dedo se esquiva.
Ela do dedo tem medo.


[Carolina Miquelassi]
[19.12 / 04:35]

As vezes eu escrevo cada coisa besta...

quinta-feira, dezembro 06, 2007


Homem-anjo de fogo
Em toda a sua andança
Não esqueça a quebrança

Que sente este coração distante

Inoperante querer, mitigado
Anestesiante passagem das horas
Tantas horas que se fizeram vida
E da vida não posso esquecer

Homem-anjo de fogo
Fez-me
carvão incandescente
Fez-me cantante e demente
Mas nunca na vida infeliz

Ao puxar-me brasa
Não havia lugar para arder
Não havia tempo para amar
Mas havia pra não morrer

Homem-anjo de fogo e sangue
Colhe-me o que resta de amor
E sempre há de restar amor
Homem-anjo de fogo e sangue


[Carolina Miquelassi]
[06.11 / 16:01]

domingo, dezembro 02, 2007



Versos postumamente lúbricos.

Quero te dar meu corpo em negros lençóis azuis
de rubro cetim macio e brilhante.
Dar-te corpo apenas, nada mais.
Porque nada mais de mim necessitas.

Palmilhando cada poro teu
e deles fazer sangrar teu suor sacrifício.
Cada milímetro de pele memorizado.
Arrancar-te pequenos vestígios,
guardados sob as unhas.

Toda curva e ondulação, protuberância,
gravadas na memória táctil de minha língua.
E não saber mais onde finda minhas mãos
e principia teus cabelos.

Nos teus joelhos pousar um beijo
avançando longa e lentamente...
Doloroso prazer causar-te aos meus lábios
em que língua e leite não se separem.

Na garganta deixar brotar rouco
o som da fonte desse mistério.
E ver que o tudo é sempre tão pouco
sem alma, o teu amor estéril.


Carolina Miquelassi

...

abstrair vídeo, ouvir música
http://br.youtube.com/watch?v=KDf4Pnw0ngQ&feature=related