Danae

Danae
Klimt, Gustav

sexta-feira, maio 30, 2008

Muro


Preciso aprender a fazer versos de pedra
E com cada um deles construir o meu muro.
Por trás dele estarei sentada, na grama verde
Olhos por cima dos óculos de sol.
O quem vem de baixo... Sim, também atinge.

Carolina Miquelassi

domingo, maio 25, 2008

Do cinza às cores fortes


No momento algumas poucas e basilares coisas me atormentam:
O aniversário que já aponta ali na esquina. Há tão pouco tempo dezoito, daqui a três anos trinta. Nossa..
A formatura que está cada vez mais certa e inevitável. Ui! Sempre tive um medo terrível de crescer e querendo ou não, com a minha idade e um diploma... Vou nem perguntar o que fazer com o canudo pra não ouvir desaforo.
Ter que ir pra sala de aula pra poder pagar minhas contas. Eu definitivamente não quero fazer isso.
Quanto à presença da minha mãe na minha vida... Nem quero falar muito. Ela é meu melhor lugar, o único e verdadeiro amor abnegado que terei na minha vida. Não que eu ache que todo amor deva ser abnegado... É que eu ando acreditando que essa palavra ‘amor’ só se materializa no tocante a essa relação entre mãe e filho, o resto é balela.
Agora não é um medo, mas o maior dos desejos; quero conhecer o outro lado desse amor. Um misto de vontade avassaladora e medo paralisante... Quem sabe daqui pros trinta...

Carolina Miquelassi

sábado, maio 17, 2008

Terra em que muito se pisa nenhuma grama nasce


Hoje eu troquei de perfume e muitas coisas em volta pareceram-me diferentes.
“Outro lar ao acordar de manhã”
Preciso despir-me.
Despir-me dessas lembranças ainda quentes, mas azedas.
Despir-me da minha pele, da sua pele ainda na minha.
Despir-me das pretensões literárias.
“Nunca jogue o que faz pra posteridade” ouvi certa vez.
Não sei o que se deu em tudo nessas últimas 48 horas, mas algo importante aconteceu aqui e isso não é só bipolaridade.
Adorei revisitar sabores ontem a noite jantando sushi com Pri e Mari. Foram boas e aflitivas as horas que passamos juntas e sem maiores detalhes quanto a isso.
Mariana me disse uma coisa na qual eu já havia pensado e de certa forma concordo; eu vivo substituindo uma pessoa por outra dentro de mim. Cada uma das pessoas com quem me envolvi nos últimos ‘sei lá quantos anos’ foi um tapa buraco de outra. Talvez por isso eu tenha me agarrado de tal maneira a cada uma delas, querendo fazer delas minha reta de chegada, o fim de uma corrida que eu não tinha consciência, até então, de estar disputando... E disputava comigo mesma. E daí as mesmas perguntas retornaram a minha cabeça; Será que eu gostei realmente de cada um desses homens que julguei terem sido minhas grandes paixões? Será que eu já gostei verdadeiramente de alguém? Será que a minha capacidade de dizer adeus pra sempre a algumas pessoas não é exatamente um sinal de que eu tenha percebido que um encantamento que eu sentia por elas acabara e quem sem isso nada restava?
Tantas outras perguntas...
É difícil admitir, mas (para uma pessoa considerada tão passional) acho que eu nunca amei alguém. Certamente por isso eu não acredite no amor da forma como as pessoas dizem sentir ou colocam como possível. Pensar nisso mexe com muitas das minhas outras descrenças. Mas isso é tema pra mais de dez anos de terapia intensa...
Estava escrevendo até agora dentro do ônibus. Não consegui resistir e ao passar pelo shopping decidi descer e comprar sushi pro meu almoço. Os rapazes ainda estão preparando e vai demorar uns vinte minutos. Agora posso me sentar em uma das mesas da praça de alimentação (sempre dou preferência as do sofá) e continuar a escrever sem os solavancos do ônibus. Mas parece incrível – assim como em tudo na minha vida – quando algo se mostra certo, possível, definido... Passo a não querer mais. Some de mim o interesse e já estou pensando em dar uma volta no supermercado do piso inferior.
Ai ai...
Só sei de umas poucas coisas; tudo parece estar conquistado uma nova ordem aqui dentro (tanto no que sinto quanto no que penso) não sei quanto tempo terei antes que apareça o próximo vendaval (eles sempre vêem depois da calma), mas eu posso dizer que estou me sentindo muito bem agora.

Carolina Miquelassi

sexta-feira, maio 16, 2008

acabo de retroceder cinco meses agora
eu não quero
mais
você [aqui]

"eu não sei como retirar tanta agonia de dentro de mim
acabo de retroceder cinco meses agora
em poucos minutos de conversa... nem preciso dizer com quem
preciso de um exorcismo, urgente!
o que é isso? o que pode ser isso?
eu estava tão bem inerte, dormindo, em coma dentro de um bloco de gelo.
como eu faço pra fechar a derradeira porta, sem Adeus e não voltar mais lá e nem deixar pistas para que cheguem até mim?
eu precisava agora de alguém que soubesse mensurar um pouco disso que estou sentindo.
eu estava a esquecer desse gosto salgado na minha boca..."

°
do texto que mandei há pouco para a Bolinho de Arroz.
isso aqui tá virando Diário e a culpa é das aulas de Lingüística Aplicada...

quarta-feira, maio 14, 2008


“porque aquele que eu mais amo dormia a meu lado sob a mesma manta na noite fria. na quietude daquele luar de outono o seu rosto estava inclinado para mim e o seu braço repousava levemente sobre o meu peito - e nessa noite eu fui feliz.”
(Walt Whitman)

domingo, maio 11, 2008



"alguns blogs que leio me deixam meio desanimada (despeitada seria a palavra certa) quanto a minha escrita pessoal.
pela simples razão deu perceber que algumas pessoas, conhecidas ou não, sempre conseguirão falar melhor do que eu sobre as coisas que sinto.
me cansa a minha monotematicidade. realmente, pareço não ter mais do que um modo de olhar as coisas a minha volta ou não ter a capacidade de descrever as coisas de forma eficiente.
isso acontece quando leio o blog de Adélia (e eu já nem falo mais isso pra ela, porque tenho receio de ser inconveniente) e isso aconteceu hoje ao fazer uma das costumeiras buscas de imagem para postar no fotolog e encontrei um blog que tive que ler de cabo a rabo.
a menina foi me deixando profundamente emocionada a cada post...

eu definitivamente sou uma amadora de mim mesma.
não sei escrever a não ser sobre minhas emoções e como eu estou fazendo até despacho na esquina pra não sentir mais nada nesse velho e maltrapilho peito eu deveria mesmo era deixar essa coisa de escrever pra quem realmente o sabe e faz com plena competência.

mas eu sou tão teimosa ou sei lá bem o quê que certamente ainda voltarei por aqui pra postar mais uma das percepções repetitivas e mal redigidas da minha realidade suuper interessante."


Carolina Miquelassi

sábado, maio 10, 2008


Baby, baby, me acorda com pancadas no coração.
Forçando a maçaneta da vontade e quase dando chutes na madeira do tempo.
Baby, baby, me deixe dormir!
Não me acorde desse sono de dormência.
Não me faça lembrar teu abraço... Que eu não posso, não passo sem... Ou eu pego já já um avião.

Carolina Miquelassi
agorinha...

quinta-feira, maio 08, 2008


Dançando frevo no fio da navalha... Pensava nisso e acreditava que alguém já devia ter se sentido assim ou parecido. Balançava de um lado para o outro no banco do ônibus. Seus pensamentos seguiam para um rumo incerto embarcados em pequenos botes/bolinhas de sabão. Um enxame de perfumes lhe atacava sensações vermelhas e inchadas pela alma: alfazema, limão, bala de coco... Como alguém podia usar um perfume que lembrava bala de coco? Uma música quebra sua concentração, tão fina quanto casca de ovo... Branda, brincava a sua volta uma ciranda. Era a melodia de uma saudade que dialogava com a solidão, fazendo-lhe companhia... Menta e monóxido de carbono. Não buscava fazer nenhum relato mental das impressões sobre as últimas pancadas na porta após as onze da noite... Apenas reforçou o trinco, colocou mais um grosso cadeado e todas as noites antes de dormir encostava o espaldar de uma pesada cadeira na maçaneta da porta. Quando o problema se apresentava por demais complicado ou sem solução óbvia e aparente ela procurava não perder mais tempo pensando. Criar rugas no rosto antes dos trinta... Já lhe bastava saber que um dia elas seriam inevitáveis. Mas havia feito a descoberta de que as rugas n’alma não eram. Deveriam ser como rugas n’água, durando apenas o tempo necessário para a pedra, folha ou coisa qualquer mergulhar até o fundo e os movimentos da física e todas aquelas coisas das quais as aulas da matéria não lhe fizeram aprender fossem anulados. Mas irritantemente lembrou que as folhas bóiam e o vento sempre dá o ar da graça... Sua mais nova profissão: controladora de tempestades e naufrágios.

“Anda, se manda pro tempo não te pegar, pro tempo não te pegar”
[Mombojó]

Carolina Miquelassi
O8.O5.O8_11:OO

segunda-feira, maio 05, 2008

... fragmentos de um sonho ou realidade ...



"Sinto-me dentro de um aquário.
Quando falo ou me movimento é como se tudo estivesse em câmera lenta e rodeada de um líquido amniótico que, diferentemente daquele de há mais de 26 anos, não dá sensação alguma de segurança. Parece-me que posso ser expelida num parto doloridíssimo a qualquer momento, saindo da cama de volta pra minha vida de sempre.
Se não fossem os compromissos eu ia até gostar de passar umas duas semanas em casa curtindo essa doença que eu nem sei qual é... Depressão? Até parece, mas não estou com aquela tristeza e desesperança. Estranho... Eu não sinto nada. Tá bom aqui. Num tô sentindo falta de nada agora... Agora...
O gato subiu na cama e eu nem percebi quando. Acordo e ele está deitado, espachorrado aos meus pés... Folgado. Não consigo alcançar. Me deu dó de empurrá-lo com os pés. Deixo-o continuar dormindo lá. Só falta babar. Quando penso nisso percebo que eu mesma babava na fronha enquanto completava 15 horas deitada em minha cama. Entre o dorme e acorda. Alguns sonhos tão insólitos, alguns desejos tão escondidos de mim que realizei dormindo.
Estou empapada de suor. A febre cedeu.
Se eu pudesse tomar um banho frio sem ter que me levantar...
Não sinto fome, só enjôo.
Começa a chuva.
Removam o teto, por favor. Preciso urgentemente de um banho de céu."

Carolina Miquelassi