Danae

Danae
Klimt, Gustav

sábado, abril 19, 2008

"Eu tô curando a ferida"


Desfiam em seus cabelos os minutos, dias e luas do amado a não ver e não querer o beijo e o desejo sorvidos em doses de inconstância e certezas absurdas. Ela planta os pés na graminha e passa longos minutos a olhar as negras formigas a passearem-lhe pelos pés pálidos e de dedos tortos. As picadas já não lhe assustam, uma dor tão conhecida, mesmo assim ela as afasta antes que lhe apliquem o ácido. Não precisa arriscar mais uma vez.



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Perdi o hábito de dialogar comigo irresponsavelmente e sem compromisso lírico.
Devo ter acreditado nos comentários quanto ao meu material escrito e tomei ares de intelectual pedante, hihihi
Minhas palavras norteiam-me silenciosamente através dos últimos dias e fatos.
Enquanto busco calar por dentro os dedos conjuntamente se negam a procriar.
Não determino datas ou rumos para tantas fugas.
Obtenho os silêncios e guardo em recipiente de vidro fosco minhas últimas tentativas de chorar.
Nada é terminantemente findo para que se façam malas com os cachecóis e grossas mantas de lã do último inverno.
Por vezes uma brisa ou réstia de sol atinge-me o rosto e fazem parecer que a primavera pode aparecer em qualquer estação, até na de trem.
Nada é perene.


Carolina Miquelassi

19.O4_14:58