Danae

Danae
Klimt, Gustav

sábado, outubro 09, 2010

Eu acho que é pra seguir sozinha mesmo. Olhando a minha sombra de relance, dependendo da posição do sol. Minha única companhia certa, mas mesmo assim inconstante.
Uma vez um amigo me falou que eu que era feliz, porque eu esquecia, porque eu me bastava. Disse-me isso depois deu ter lhe relatado uma superação. Certas pessoas superam fatos, eu supero pessoas. E supero pra valer. Mas estou cumprindo a certeza de que tudo tem sua exceção. Ou não...



"Demorou tanto pra que o deixasse entrar. E quando deixou, tomou-lhe conta dos espaços mais escondidos com tanta calma, com tanta certeza, como alguém que entrava em SUA casa, depois de anos de viagem, mas sabia que era o SEU lar. Sabia que cada cômodo ali lhe pertencia sem a dominação da posse, mas com a certeza de um amor inquestionável. Devolveu às paredes a cor, à cada canto a alegria e o riso. Calmamente. Quase que displicentemente, mas com muito cuidado e responsabilidade.
Difícil ser repaginada, redecorada, remobiliada, viver dias na alegria de um ‘lar’ feliz e depois ver seu habitante partindo, sem saber o porquê ou mesmo se retornaria. Difícil pra uma casa esperar. Buscaram-na alguns inquilinos e, na tentativa de dar certo movimento e evitar que a poeira da ausência lhe cobrisse tudo por dentro, aceitou-os. Mas eram barulhentos ou possuíam costumes indesejáveis. Mas principalmente, não tinham respeito por aquele LAR. Não o amavam, pois não era seu lar. E sim apenas uma moradia temporária.
Decidira fechar-se, portas e janelas, e mandar uma carta. Um sinal de que estava a espera. Quem sabe receberia um postal da nova cidade de seu ‘morador’ ausente, e até mesmo uma data prevista (quem sabe,) para um retorno ou mesmo uma visita.
Difícil para uma casa enviar correspondência. O mais comum é o sentido inverso. Mas seu morador tinha hábitos que ela já conhecia. E sabia que era isto que ele aguardava."

...

Isto não termina por aqui. Mas eu não escreverei o desfecho sozinha.

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