Danae

Danae
Klimt, Gustav

sábado, setembro 27, 2008




Não tenho nomes. O que amo não é amor e o fogo que não me arde é a mais intensa de todas as pré-históricas chamas. Essa calma não atende quando lhe chamam. Não há pias batismais, águas ou óleos. Nada unge e, no entanto é absolutamente divino, numa terra em que não há deuses e todos os são. Não quero fazer uso de nenhuma palavra já conhecida para designar o que tenho em mim agora. Todos os sentidos do amplo vocabulário romântico foram esvaziados pela superficialidade e vulgaridade de seu uso. O que tenho em mim não existiu jamais até então. No meu mundo, o que se vê, sente e respira agora é único, inimaginado, inacreditado e insistente em existir dentro de todas as possibilidades contrárias. O que sinto me proporciona a paz sempre desejada e que nunca esperei possível no amor, muito menos na paixão. O que sinto, sei, não é eterno. Tem dia e hora pra acabar, porque não é mais que fase de transição entre a antiga ataraxia e outra coisa que ainda desconheço. O que sinto é mais raro e próprio por trazer consigo a lucidez de seu trajeto, a lucidez de meus sentidos, de minhas palavras, de minhas saudades, de minha paz.
Eu preciso te dizer, preciso te escrever antes que não seja mais nada disso e que já tenha passado a nossa caravana policromática de felicidades pequenas, em gotas que transbordam quando nadamos nelas. Uma vez nela nos perderemos e surgiremos banhados de luz em outro lugar completamente novo e de lá partiremos, juntos os separadamente juntos, mas o que se deu num de nossos dias, num átimo de nosso tempo, no amplo espaço dos poucos dias de nossas vidas, isso existirá e nenhuma eternidade, com toda a sua sabia velhice, conseguirá dar cabo.

Carolina Miquelassi

terça-feira, setembro 23, 2008




Quando não se deseja que o contato com o corpo acabe e as horas junto parecem ter sido minutos ligeiros e distantes... A saudade do que se sente ainda aqui de tão breve o tempo e espaço da despedida. Ficam as mãos ainda nas minhas, o cheiro por todos os lados, a voz, o sorriso, os beijos... Fica a presença suspensa quanto mais ausente se faz.


quinta-feira, setembro 18, 2008




Cheiro de boca, adorno, saliva doce.
Vem com febre,
vem com fome,
vem em brasa,
vem, me come.
Casa minha carne em seus dentes,
adormece minha insônia de mordidas,
sorve essa carne em carne-viva,
abranda-me a pele em flor.

Carolina Miquelassi

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segunda-feira, setembro 15, 2008

Só a insanidade governa os trotes do meu
coração-cavalo-alado


Carolina Miquelassi

quinta-feira, setembro 04, 2008

deixa o Lira falar agora

"A paixão é um mar
Parabólica
Dilatada
Estrada que dói
Encanto de flor
Labirinto
Espera de redes
Parece toda raiz
Só raiz
Quando não canta o trovão
Transfiguração"


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Recado aos desavisados esporádicos ou freqüentes.
Eu não escrevo para obter opiniões alheias. Se elas vêm, as leio e meu ego dita se serão aceitas ou apagadas. Não preciso da aceitação de estranhos ou conhecidos. As opiniões amigas me agradam e as de quem não conheço também, mas os anônimos não falam nada pra mim. Não escrevo senão por pura necessidade de evitar uma auto combustão interna (talvez também externa, nunca se sabe). Escrevo quando não agüento mais ouvir dentro da minha cabeça as mesmas frases que me sussurram em desespero num pedido por serem remanejadas para outro lugar. Escrevo pra poder dormir, saio da cama e escrevo pra poder voltar a dormir. Escrevo pra secar as lágrimas e paixões. Não possuo pretensões literárias ou poéticas. Se as tive, o tempo tem se encarregando de deitar por terra uma a uma.
Como já ouvi em algum lugar; Não gostou, não lê! É o que faço com as dezenas de blogs aos quais chego, os que me agradam nem sempre recebem comentários, porque acredito que pouco se tem a dizer ao autor de um texto que nos emociona, ainda mais quando desconhecido. Poucas vezes fiz isso, dificilmente repetirei. A intenção de ferir por pura satisfação não faz parte das minhas taras, essas são bem menos ofensivas. Eu não quero agradar ninguém. Se quisesse, não tentaria isso escrevendo.

Carolina Miquelassi

segunda-feira, setembro 01, 2008

Nada é belo na falta de amor.



quem pudesse ouvir os silvos de dor daquela mulher na mais alta e escura madrugada de sua vida, jamais compreenderia como se plantara em seu peito, alma e corpo tamanha dor e aflição. Roxa de todos os sentimentos podres e carnais, amarela de toda sua própria e máxima culpa, não sabia pra onde direcionar sua mente, alma ou coração. Não os julgava mais possuir, não sabia mais o significado de nenhum verbo que empregava, muito menos dos tempos que lhe consumiam em buscas de fantasmas antigos e novos, ainda frescos da mais maldosa vida. Quem pudesse sentir o calor das lágrimas daquela mulher que não sentia mais nada e estava muito bem nisso, mas que se viu sem saber como por onde ter deixado entrar um invasor sorrateiro e pueril nas suas vestes mais intimas e perfumadas... não saberia o que lhe dizer. Ninguém poderia lhe ofertar um sopro de conforto que bastasse para lhe tirar a vida tão dolorosa a qual tinha regressado sem se dar conta, até então. Poderia voltar? Se perguntou tantas vezes. Tantas e tantas até seus lábios murcharem de tão frios e ressecados, gotas de sangue escorrendo pelo queixo, empapando a camisa. Todos os líquidos dolorosos e medonhos de seu corpo. Queria, naquele mísero instante, derreter enquanto queimava e tornar doce qualquer mulher que pudesse pensar ou sonhar em ter a dor de uma vida perdida por paixões malfadas e patéticas, pobres de tudo que poderia ter, podres da raiz à folha última. Sem lágrimas, sem sangue, ela já não é. Verbo nenhum poderia dizer aquela pasta de ossos e carne vazios de vida e brilho. É essa vela na ventania toda a luz que há. Nada. O problema é tudo que nada.

Carolina Miquelassi

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http://br.youtube.com/watch?v=wW9JM49CqmU&feature=related