Não tenho nomes. O que amo não é amor e o fogo que não me arde é a mais intensa de todas as pré-históricas chamas. Essa calma não atende quando lhe chamam. Não há pias batismais, águas ou óleos. Nada unge e, no entanto é absolutamente divino, numa terra em que não há deuses e todos os são. Não quero fazer uso de nenhuma palavra já conhecida para designar o que tenho em mim agora. Todos os sentidos do amplo vocabulário romântico foram esvaziados pela superficialidade e vulgaridade de seu uso. O que tenho em mim não existiu jamais até então. No meu mundo, o que se vê, sente e respira agora é único, inimaginado, inacreditado e insistente em existir dentro de todas as possibilidades contrárias. O que sinto me proporciona a paz sempre desejada e que nunca esperei possível no amor, muito menos na paixão. O que sinto, sei, não é eterno. Tem dia e hora pra acabar, porque não é mais que fase de transição entre a antiga ataraxia e outra coisa que ainda desconheço. O que sinto é mais raro e próprio por trazer consigo a lucidez de seu trajeto, a lucidez de meus sentidos, de minhas palavras, de minhas saudades, de minha paz.
Eu preciso te dizer, preciso te escrever antes que não seja mais nada disso e que já tenha passado a nossa caravana policromática de felicidades pequenas, em gotas que transbordam quando nadamos nelas. Uma vez nela nos perderemos e surgiremos banhados de luz em outro lugar completamente novo e de lá partiremos, juntos os separadamente juntos, mas o que se deu num de nossos dias, num átimo de nosso tempo, no amplo espaço dos poucos dias de nossas vidas, isso existirá e nenhuma eternidade, com toda a sua sabia velhice, conseguirá dar cabo.
Carolina Miquelassi