Danae

Danae
Klimt, Gustav

segunda-feira, fevereiro 12, 2007



"Há algum tempo, na busca de enterrar um grande amor, escrevi isso sem saber que tentava o impossível"


“Tú que fuiste mi única patria ¿en dónde buscarte? Tal vez en este poema que voy escribiendo"

Alejandra Pizarnik
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- Eu devo me preocupar com você?

- Só se você quiser.

(Encontros e Desencontros)
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Ele me roubou o nome, o ritmo, o compasso e a palpitação.
Sumiu com minha freqüência cardíaca, a fome, o sono, o medo, a coragem.
Com ele se foram à vontade e a falta de, o estar e o nem isso.

Ele me roubou a calma e o tormento antigos.
Roubou-me a fuga e a possibilidade de correr.
Ele me levou as pernas.

Tirou-me a pressa, o ontem o amanhã e não me deu o hoje.
Ele me levou o sabor, mesmo doce ou amargo...Não sinto mais.
Ele me roubou o que eu nunca tive e o que ele nunca me deu.
Roubou-me a promessa que nunca fez,
os beijos que me deu de escarro e o toque que me mutilava a alma.

Ele me levou os olhos e jogou-os ao mar.
Pôs no fundo do bolso minha dor e bateu a porta ao sair.
Desligou meu compasso interior e fugiu com os fios.

Ele descolou meu sorriso e me sangraram os lábios.
Ele passou por mim e disse “oi” e eu cai...
Seu beijo marcou-me a face em cicatriz profunda e latejante.
Debulham-se os minutos que seu relógio não marca mais.


Ele me levou a alma, embora ela não me faça falta.
Levou-me a última lágrima e eu ainda choro por isso.
Enfim ele levou a si pra longe e me colocou ao seu lado.

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