Danae

Danae
Klimt, Gustav

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

2 de dezembro



Meu nome em sua boca soou estranhamente familiar.

- Carolzinha...

Sua mão passou pelo meu braço e envolveu minha cintura. Senti enfim o beijo da boca que quis algumas vezes mais por curiosidade que por desejo. Por poucos segundos detive-me apenas em saborear aqueles lábios frescos e suaves. Um beijo bom embora sem calor.
Despertei. O que eu estava fazendo naquele quarto? O que eu buscava? O que eu realmente queria ali? Por que não pedia pra parar? Por que eu estava tão consciente se o bom desses momentos é exatamente perder a consciência? O beijo de alguma forma me prendia. Ou o que me fazia continuar era só a vontade de beijar? Não necessariamente beijá-lo...
Quando seus lábios desceram e começaram a sugar o bico do meu seio direito me senti flutuar pelos mesmos poucos e insuficientes segundos e mais uma vez senti o ímpeto de afastá-lo e ir embora, mas não foi o que fiz. Apertei ainda mais sua cabeça contra o meu seio. Segurei seus negros cabelos sem vontade e tentei sentir por ele alguma ternura naquele momento. Não consegui.
Roçamos nossos corpos por algum tempo enquanto eu buscava roubar de seus olhos o desejo que não via. Era como se me olhasse no espelho. Nada do que eu queria sentir. Nenhum carinho profundo. Nenhum amor... Nenhum sentimento claramente decifrável.
Então por que continuar?
Por que tudo começou?
Claro que eu sabia desde o princípio o que aconteceria dentro daquele quarto. No aparelho de TV um clássico de Kubrick. O pretexto para tudo...
Era só vontade o que eu via!
Não que eu devesse esperar mais, mas era pouco, muito pouco pra mim. Era como vontade fria de comer mais mesmo estando saciado. Não havia nenhum sentimento maior que justificasse, pra mim, aquele momento. Não havia calor de nenhuma das partes. Era mecânico, embora o apelo da carne começasse a aflorar.
Estávamos completamente nus um diante do outro e pensei que seria melhor que ele fosse um completo desconhecido, pra ser menor minha aflição e não alguém que pensei poder ser um amigo.
Me senti tão pequena quando o fiz me penetrar. Me senti mesmo um objeto...Talvez pela primeira vez. Quis com todas as forças que aquilo acabasse logo. Em pouco tempo meu corpo foi tomado pelas sensações quase esquecidas do sexo. Meu corpo sentiu um grande prazer, mas minha mente estava completamente lúcida. Ao fundo a nona de Beethoven fazia tudo parecer alucinação. Ficamos por um longo tempo abraçados. Ele ainda dentro de mim. Senti quando me deu um beijo na testa... A ternura que procurava...Depois nos deitamos lado a lado, ele por trás de mim. Fingi atenção no filme legendado. Estava sem os óculos.

- Vontade de comer manga! - Ele diz
- Rosa ou espada? – Pergunto idiotamente só pra falar algo e me arrepende.
- Espada!
- Ah... Mas uma vez desejei estar com um estranho e não me preocupar com o que ele pensava sobre mim.

Senti mais ternura e prazer em acariciar os pelos de seu braço do que no sexo. Afinal era o que eu buscava, um pouco de carinho. Seria tudo se ele apenas tivesse me beijado. Eu não pude evitar o resto. Ainda me pergunto por que não pude, só sei que não pude.

A imagem mais terna que gosto de guardar dele é de seu sorriso de criança ao me contar ter comido brigadeiro nas férias enquanto se recuperava de uma pneumonia.

(...)

- Se você fosse um bicho, qual seria???
- Passarinho!!!



Não me pergunte o que realmente sinto!!! Não saberia responder!!!

segunda-feira, fevereiro 12, 2007



"Há algum tempo, na busca de enterrar um grande amor, escrevi isso sem saber que tentava o impossível"


“Tú que fuiste mi única patria ¿en dónde buscarte? Tal vez en este poema que voy escribiendo"

Alejandra Pizarnik
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- Eu devo me preocupar com você?

- Só se você quiser.

(Encontros e Desencontros)
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Ele me roubou o nome, o ritmo, o compasso e a palpitação.
Sumiu com minha freqüência cardíaca, a fome, o sono, o medo, a coragem.
Com ele se foram à vontade e a falta de, o estar e o nem isso.

Ele me roubou a calma e o tormento antigos.
Roubou-me a fuga e a possibilidade de correr.
Ele me levou as pernas.

Tirou-me a pressa, o ontem o amanhã e não me deu o hoje.
Ele me levou o sabor, mesmo doce ou amargo...Não sinto mais.
Ele me roubou o que eu nunca tive e o que ele nunca me deu.
Roubou-me a promessa que nunca fez,
os beijos que me deu de escarro e o toque que me mutilava a alma.

Ele me levou os olhos e jogou-os ao mar.
Pôs no fundo do bolso minha dor e bateu a porta ao sair.
Desligou meu compasso interior e fugiu com os fios.

Ele descolou meu sorriso e me sangraram os lábios.
Ele passou por mim e disse “oi” e eu cai...
Seu beijo marcou-me a face em cicatriz profunda e latejante.
Debulham-se os minutos que seu relógio não marca mais.


Ele me levou a alma, embora ela não me faça falta.
Levou-me a última lágrima e eu ainda choro por isso.
Enfim ele levou a si pra longe e me colocou ao seu lado.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007




Há quem saiba passar... Eu não sei.

Aconchego-me em meus próprios braços
enquanto vejo tuas frases pra outro alguém.
Engano-me, distraio-me com o que sei que não poderei amar.
Em que frio quarto de amor esqueci meus sentimentos?
Em qual corpo ou sorriso deixei o meu olhar mais terno?
Em qual pesadelo ficou a minha ternura?

“- Se você fosse um bicho, qual seria?
- Passarinho!”...


“Pools of sorrow, waves of joy are drifting through my
opened mind,
Possessing and caressing me.
Jai guru deva. Om.
Nothing's gonna change my world,
Nothing's gonna change my world…”


Tudo que me toca fere e eu nem fui capaz de te tocar… Ou ferir.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007




Eu que ainda sou do tempo em que calcinha era por cima do bum-bum... Até isso se vende hoje...

sábado, fevereiro 03, 2007

Namoro na TV ou Onde se encontra um grande amor?





Desde os tempos de Silvio Santos que procurar namorado em programa de TV dá audiência, mas desconfio que isso atingiu as raias da epidemia.
Assistindo TV num sábado a tarde (eu sei, mas era isso ou um tiro na boca) pelo menos 3 canais de TV aberta mostram garotas que estão saindo da adolescência e mulheres acima dos 30 a procura do par perfeito. É um verdadeiro desfile de qualidades e ousadia. Praticamente um concurso no qual ganha o que se apresentar melhor, o que estiver mais bem vestido, o que decorou o maior número de frases de efeito. Exibem-se numa vitrine de grau aumentado que oculta nossa essência, afinal, quem quer saber como o outro é realmente??? O que cada um quer é encontrar o fruto dos seus sonhos e projetos. Um alguém perfeito que lhe complete. Como isso é impossível (até pra a televisão) resta ficarmos (nós que assistimos e eles que “namoram”) com o primeiro encontro em que tudo é novidade e excitação.
Nada muito diferente das noitadas nas boates, reuniões em casas de praia, encontros de estudante... A não ser a ausência de câmeras e de um apresentador. Continuamos sempre a procura do par dos nossos sonhos e nunca que seremos a realidade de alguém (peguei pesado agora...ô drama). Não achamos nunca quem nos complete pq ninguém assume tamanha responsabilidade – ser a outra metade de alguém – não nos damos conta que ninguém será responsável pelo que nos falta. Dificilmente aceitaremos que amar não é realizar os sonhos de alguém e tornar a vida deste alguém perfeita.

Sei o que você dirá (minha bola de cristal nunca falha): Discurso de gente amargurada, desiludida.


Desilusão: Ato ou efeito de desiludir(-se); desengano, decepção

Se não tenho ilusão e não me engano mais significa que estou livre. Não acredito em mentiras que irão me ferir. Se quem não acredita mais nos relacionamentos é alguém desiludido significa que acreditar em relacionamentos é iludir-se.

DAS ILUSÕES

Meu saco de ilusões, bem cheio tive-o.
Com ele ia subindo a ladeira da vida.
E, no entretanto, após cada ilusão perdida...
Que extraordinária sensação de alívio!

Mário Quintana

Ok, eu confesso! Continuarei sonhando com aquele que um dia cantará pra mim os versos do Chico

“Se ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios.
Rompi com o mundo queimei meus navios.
Me diz pra onde é que ainda posso ir?”

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Ó meu amigo, não busque encontrar
No ser amado um espelho
Do seu desejo sonhado
Do que não consegues ser
Para o seu ser amado.

04.01.07
22:48

quinta-feira, fevereiro 01, 2007




“Tem dias que não sei se devo parar de respirar definitivamente ou se fico em apnéia durante todo o tempo que me resta. Dias em que debaixo das cobertas respiro e engulo minhas lágrimas sentindo o sabor delas na língua. Levanto de uma cama desarrumada com os cabelos despenteados e com a pele violentada. Nua, diante de um espelho. Observo meu corpo. Vejo uma lágrima escorrendo dos olhos pelas faces, enxugo com um dedo e arranho um pouco a bochecha com a unha. Passo as mãos nos cabelos, puxo para trás, faço uma careta só para parecer simpática e rir de mim mesma: mas não consigo, quero chorar, quero me punir. Vou até a primeira gaveta da mesinha. Primeiro examino tudo o que tem dentro, depois separo com cuidado o que quero vestir.” Cem escovadas antes de ir para cama" [Melissa Panarello]