Danae

Danae
Klimt, Gustav

sábado, janeiro 26, 2008




Enlouquece-lhe o que é efêmero [enlouquecida em ausência
inunda-se do instante que já não é [inundada em horas
abandona-se na saudade que não é mais [abandonada em tentativas
essa saudade que não é, que se vai, que não a pertence e que só lhe atravessa, ultrapassa e abandona.
Sozinha de saudade. Sozinha de paixão. Sozinha de futuro. Sozinha de presente. Sozinha de alma. Sozinha de passos. Sozinha de vontades. Sozinha de recomeços.

[O chá é gelado e a dor se espalha cintura abaixo.
Engole indiferente o que a boca já sentiu amargo]

Tudo soa como mesmo, como repetição.
Tudo soa como o mesmo velho sino que badala por costume ou profissão.
A palavra escrita, a ligação, a voz ao telefone, o mesmo som.
É muito, é suficiente e sempre faz falta.
É a outra volta no ponteiro dos minutos, a hora inteira, a madrugada.

A falta da palavra efetiva.
A falta da palavra.
A falta.
A falta que espessa o ar.
A falta que alonga as unhas.
A falta que finda o dia.

Momentaneamente, ela escreve cartas que não vai endereçar.
Pontualmente, ela perde o sono e põe a culpa no calor.
Ela respira, sente saudades e chora.
Ela enxuga lágrimas, fecha as janelas e acende a luz do amanhã.

Carolina Miquelassi

21.01_23:09

3 comentários:

Serennus disse...

a gente podia juntar os só(i)s. =)

Serennus disse...

a gente podia juntar os só(i)s. =)

Anônimo disse...

Demorei, mas vim. E amei aqui. Volto já e sempre, viu? ;)

Ah, e tá linkada, com todas as honras e méritos. Sua escrita é linda!

;*
Deh