Danae

Danae
Klimt, Gustav

quinta-feira, maio 08, 2008


Dançando frevo no fio da navalha... Pensava nisso e acreditava que alguém já devia ter se sentido assim ou parecido. Balançava de um lado para o outro no banco do ônibus. Seus pensamentos seguiam para um rumo incerto embarcados em pequenos botes/bolinhas de sabão. Um enxame de perfumes lhe atacava sensações vermelhas e inchadas pela alma: alfazema, limão, bala de coco... Como alguém podia usar um perfume que lembrava bala de coco? Uma música quebra sua concentração, tão fina quanto casca de ovo... Branda, brincava a sua volta uma ciranda. Era a melodia de uma saudade que dialogava com a solidão, fazendo-lhe companhia... Menta e monóxido de carbono. Não buscava fazer nenhum relato mental das impressões sobre as últimas pancadas na porta após as onze da noite... Apenas reforçou o trinco, colocou mais um grosso cadeado e todas as noites antes de dormir encostava o espaldar de uma pesada cadeira na maçaneta da porta. Quando o problema se apresentava por demais complicado ou sem solução óbvia e aparente ela procurava não perder mais tempo pensando. Criar rugas no rosto antes dos trinta... Já lhe bastava saber que um dia elas seriam inevitáveis. Mas havia feito a descoberta de que as rugas n’alma não eram. Deveriam ser como rugas n’água, durando apenas o tempo necessário para a pedra, folha ou coisa qualquer mergulhar até o fundo e os movimentos da física e todas aquelas coisas das quais as aulas da matéria não lhe fizeram aprender fossem anulados. Mas irritantemente lembrou que as folhas bóiam e o vento sempre dá o ar da graça... Sua mais nova profissão: controladora de tempestades e naufrágios.

“Anda, se manda pro tempo não te pegar, pro tempo não te pegar”
[Mombojó]

Carolina Miquelassi
O8.O5.O8_11:OO

Nenhum comentário: