Danae

Danae
Klimt, Gustav

sábado, maio 17, 2008

Terra em que muito se pisa nenhuma grama nasce


Hoje eu troquei de perfume e muitas coisas em volta pareceram-me diferentes.
“Outro lar ao acordar de manhã”
Preciso despir-me.
Despir-me dessas lembranças ainda quentes, mas azedas.
Despir-me da minha pele, da sua pele ainda na minha.
Despir-me das pretensões literárias.
“Nunca jogue o que faz pra posteridade” ouvi certa vez.
Não sei o que se deu em tudo nessas últimas 48 horas, mas algo importante aconteceu aqui e isso não é só bipolaridade.
Adorei revisitar sabores ontem a noite jantando sushi com Pri e Mari. Foram boas e aflitivas as horas que passamos juntas e sem maiores detalhes quanto a isso.
Mariana me disse uma coisa na qual eu já havia pensado e de certa forma concordo; eu vivo substituindo uma pessoa por outra dentro de mim. Cada uma das pessoas com quem me envolvi nos últimos ‘sei lá quantos anos’ foi um tapa buraco de outra. Talvez por isso eu tenha me agarrado de tal maneira a cada uma delas, querendo fazer delas minha reta de chegada, o fim de uma corrida que eu não tinha consciência, até então, de estar disputando... E disputava comigo mesma. E daí as mesmas perguntas retornaram a minha cabeça; Será que eu gostei realmente de cada um desses homens que julguei terem sido minhas grandes paixões? Será que eu já gostei verdadeiramente de alguém? Será que a minha capacidade de dizer adeus pra sempre a algumas pessoas não é exatamente um sinal de que eu tenha percebido que um encantamento que eu sentia por elas acabara e quem sem isso nada restava?
Tantas outras perguntas...
É difícil admitir, mas (para uma pessoa considerada tão passional) acho que eu nunca amei alguém. Certamente por isso eu não acredite no amor da forma como as pessoas dizem sentir ou colocam como possível. Pensar nisso mexe com muitas das minhas outras descrenças. Mas isso é tema pra mais de dez anos de terapia intensa...
Estava escrevendo até agora dentro do ônibus. Não consegui resistir e ao passar pelo shopping decidi descer e comprar sushi pro meu almoço. Os rapazes ainda estão preparando e vai demorar uns vinte minutos. Agora posso me sentar em uma das mesas da praça de alimentação (sempre dou preferência as do sofá) e continuar a escrever sem os solavancos do ônibus. Mas parece incrível – assim como em tudo na minha vida – quando algo se mostra certo, possível, definido... Passo a não querer mais. Some de mim o interesse e já estou pensando em dar uma volta no supermercado do piso inferior.
Ai ai...
Só sei de umas poucas coisas; tudo parece estar conquistado uma nova ordem aqui dentro (tanto no que sinto quanto no que penso) não sei quanto tempo terei antes que apareça o próximo vendaval (eles sempre vêem depois da calma), mas eu posso dizer que estou me sentindo muito bem agora.

Carolina Miquelassi

Um comentário:

Anônimo disse...

tem feitio de carta engarrafada lançada ao mar.

forte e delicado.

belo!