Danae

Danae
Klimt, Gustav

domingo, agosto 08, 2010




Quando nos encontramos pelo tempo aberto e sem paixão, as horas dos dias passam acompanhadas do incomodo soar silencioso do vazio.
O oco no peito é oco na alma, oco nas mãos. Oco em todas as partes que pedem complemento, extensão, invasão.
Tudo que a boca engole tem a ardência e o amargo do vinho esquecido há meses na garrafa aberta.
Quando não se tem paixão, as músicas não lembram... Não se ouve nada 16 vezes seguidas, não se copia nenhuma letra, não se decora trechos inteiros de poesia quando não se tem paixão. Nada nos diz.
Um calor formigante invade nuca e boca do estômago. É a certeza de que nada há para fazer nesta tarde tão linda de sol em que se podia (devia) estar amando. O belo fica meio sem cor...
Nenhuma dor parece assustar tanto quando este cômodo vazio de janelas escancaradas como braços, aguardando outros braços, aguardando passos, ocupação. A espera de cabides, cadeiras, sapatos pelo chão.
Quando não se sente paixão, o sono vem ou não, mas não se fecha os olhos pra sonhar antes de dormir.
Acorda-se pelo dever, levanta-se pra não se perder. Toma-se banho ou só um gole de café. Engole-se um pouco de tudo sem nada querer.
Não há horas quando não há paixão, há contêineres de tempo vazando pela baia de uma espera que só termina quando a tormenta começa a nos assanhar os cabelos, o sexo e a barra do vestido.

07.08.19/02:43 – 08.08.10/14:19

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