Danae

Danae
Klimt, Gustav

sábado, maio 12, 2007

Meu Adriano

O que fazer se não consigo dormir enquanto não puser essas palavras no papel pra te entregar? Levanto da cama e vou à escrivaninha então.

Você me deu e tirou tudo. Você me tirou todo o medo, toda a dor, toda a ansiedade e também toda a paz. O que fazes comigo Adriano desde que nos olhamos pela primeira vez? Será ilusão tudo que penso sentir? Será que estou enlouquecida? Será que me encontro tão dissociada de você que ao ouvir me perguntarem meu nome pronuncio o seu? Sim, estou.

Por quanto tempo viva não poderei deixar que não façam parte dos meus dias as lembranças doces de cada olhar que me deste, de cada puxão de cabelos ou de orelha, de cada telefonema nas horas menos esperadas e nas muitas esperadas também. És o amor maior de minha vida e isso me deixa tão tranqüila pela calma da certeza de ter encontrado o que tantos atravessam a vida toda a buscar... No entanto amado meu eterno, me deixas neste mesmo instante. Me das às costas e finges até nem mesmo teres me amado um dia.
Parece loucura meu anjo se pareço não morrer por este abandono? Parece loucura se te digo que minha certeza de nosso amor ser infinito me supre de forma inequívoca?
Não. Vejo tudo isso como um sonho ruim.

Lembra de tantas tardes ao sol? Tantas conversas enviesadas antes daquele primeiro beijo... Roubado? Por quem mesmo? Lembro-me de tuas cartas quando começaste a escrever-me em absoluto estado de torpor... Acho que sonhara meu doce anjo. Acho que tanta felicidade só pode ser fruto de uma loucura sem precedentes. Acho que antes eu era louca e hoje sou...

Adriano sou eu. Não submissa, mas amante. Não frágil, mas inteira. Olha-me e diz refletindo cada movimento de seus lábios em minhas retinas, dize-me a mim que não mais me tens amor. Dize-me para que eu poça morrer de um só sopro, sem dor, porque não viveria um só segundo sob está realidade. Pelo simples fato de que só existo para o seu amor e para além dele nada de mim persiste. Nem pele, nem ossos, nem sangue, nem cabelos, nem sorriso, nem olhos, muito menos dor, amor ou suspiros...

Sim, eu mentia. Não há em mim nenhuma serenidade. Como pode haver equilíbrio em um lar sem paredes. Não há sono que me sossegue, nem brisa que me seque as lágrimas da alma. Não há paz sem esse amor.
Apaga, apaga, apagaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa todas as minhas palavras e ações.
Apaga de mim todas as certezas de amor.
Apaga de mim a lembrança desse inútil amor!
Apaga de mim essa necessidade infinita de te ter ao meu lado como um amigo que seja. Apaga de mim a dor de rasgo que me parte os olhos ao imaginar seu amor a outro alguém.
Corta-me todo o corpo e dê de alimento aos peixes no mar.
Queime-me viva e lentamente em praça pública. Expurgue de mim esse amor que não deveria me dominar assim.
Mata-me Adriano, mas não vá.
Morrerei eternamente até o dia em que cansem da minha dor e me dêem o direito de descansar.
Morrerei a cada passo que der sem ti. Morrerei a cada sabor que não compartilhes comigo. Morrerei a cada descoberta que não puder vir da cor de seus olhos nos meus. Morrerei a cada tarde e sempre que me lembrar da tua ausência. Morrerei enfim em cada sorriso que não conseguir abrir por não tê-lo mais em mim.
Morrerei até que morra este amor em mim. E aí então mais uma vez te amarei só para então poder deixar que me matem da única doença da qual vale a pena morrer: você!

Tua Elisa

(Fragmentos de uma carta de amor)

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